2007-04-19

Democracia Cultural . . .


A cultura está associada à mudança, tanto ao nível dos processos como da dimensão dos actores sociais e das suas acções sustentadas por projectos. Facilmente se esquece a distinção entre a acção dos actores sociais e a difusão cultural e ainda se apresenta a primeira como alternativa à segunda.
Uma coisa é tornar os indivíduos e as comunidades meros receptores de cultura - e aí estamos a referir-nos unicamente à difusão cultural, que certos políticos no seu discurso, e por qualquer razão não explícita, gostam tanto de confundir - e outra é pretender tornar os indivíduos, os grupos e/ou as comunidades agentes activos do próprio desenvolvimento local.
A cultura é muitas vezes considerada como algo que está estabelecido e que, por isso, se tem que levar às populações, numa razão de superioridade. Assim sendo, para além da democratização cultural (elevar o nível cultural dos indivíduos), é preciso criar uma democracia cultural, até porque nenhum individuo é desprovido de cultura, o que existem são várias formas culturais grupais, locais, regionais, etc..
No conceito de democratização da cultura, a cultura é um património que se deve conservar e difundir, mas cuja produção está nos sectores socialmente maioritários. Democratiza-se o consumo cultural, mas a criação artística continua “elitista”. Para podermos falar em democracia cultural tem que existir uma ampliação da esfera cultural aos seus beneficiários, ou melhor, as acções culturais só poderão ter sentido dentro da perspectiva “de fazer de cada um não somente mais um beneficiário da cultura adquirida, mas sobretudo considerá-la como um movimento” (Jean e Inberg, apud Jaume Trilla, 1998).
Falar em desenvolvimento cultural e em democracia é também falar da dimensão social, no desenvolvimento comunitário, na transformação social, na exclusão social, reconstruir a consciência colectiva e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e das comunidades.
Colocar o desenvolvimento cultural numa base democrática é dar voz aos aspectos pessoais e educativos - potenciando a autonomia pessoal, a emancipação, possibilitando a formação permanente -, é desenvolver o espírito crítico, é facilitar a iniciativa pessoal e ajudar os indivíduos a expressar os seus valores e as suas necessidades.

1 comentário:

Clara Coutinho disse...

Excelente o comentário que fazem neste vosso post! Um único reparo: esqueceram a referência que citam no texto...